#10 Como ativar o poder dos hábitos?
Só se fala em rotina perfeita, mas a gente ainda nem entendeu como dormir 8 horas seguidas toda noite.
Eita como é esforçada
escrito por Adline Alves

Semana passada ouvi uma pessoa falando sobre mim no telefone com alguém que não faço ideia. Peguei a conversa no meio e sem contexto, mas a tempo de ouvir: “Adline é muito esforçada, por isso dá certo”.
Nesse dia eu já tinha pego quatros ônibus, trabalhado o dia todo, aula de pilates pós expediente, ainda queria fazer minha janta e o almoço do dia seguinte, lavar o cabelo e participar de uma reunião sobre atividade da faculdade. CALMA, antes de me detestar, te aviso que aqui eu não vou romantizar uma vida corrida e te incentivar a fazer mil coisas por dia.
Eu sinceramente amo minha rotina. Não amo todos os dias, mas gosto de verdade. Meu trabalho é agradável, me divirto muito com as atividades físicas que pratico, fico feliz programando e produzindo minhas refeições para a semana; me alegro quando consigo encaixar hobbies, terapia, leitura, passeios com os amigos, tempo com a família, descanso, momentos de autocuidado. Vendo de fora eu sou o orgulho daquelas pessoas viciadas em planner e check list, mas é criminoso eu dizer que consigo fazer isso apenas porque sou organizada. Apenas porque tenho força de vontade.
Chegar nesse momento faz parte de uma construção de hábitos de anos e que requer regulação constante. Além de todos os privilégios que tenho, ainda conto com a ajuda de pessoas que me inspiram e facilitam o dia a dia.
Meu namorado muitas vezes prepara um montão de frango desfiado e deixa meu café da manhã encaminhado, meu irmão lava as verduras e frutas que peço semanalmente, minha mãe tem uma rotina flexível e consegue ajudar com as compras no supermercado e cuidados da casa, minha cunhada manda mensagem toda vez que vai na academia me incentivando a ir também. Claro que tenho responsabilidade em tudo que faço, mas tenho também uma comunidade que tenta cooperar sempre que possível, e assim a gente vai deixando a vida uns dos outros mais fácil.
Faz tempo que penso sobre como a narrativa de dar conta de tudo e ser um indivíduo autossuficiente é ridícula. A conversa sobre hábitos perfeitos domina os livros, os reels, as newsletters, os podcasts; quase sempre com um passo a passo belíssimo (e infalível) na teoria.
Acredito que o reforço da autonomia é sim chave para construção de autoestima e de autoconfiança, contribuindo para mais independência e melhores decisões. Manter uma rotina saudável - e neste termo cabe tanta coisa - deve ser vista como estratégia de saúde física e mental. Porém, não é culpando pessoas sobrecarregadas e responsabilizando indivíduos por problemas estruturais e sociais que vamos chegar mais perto disso.

Tá tudo errado, não é só você que se sente um fracasso quando bota a cabeça no travesseiro. Não é porque um grupinho pequeno consegue fazer 20 passos de skin care por dia, tomar suco verde no café da manhã, dormir 8 horas seguidas e dar check na academia 5 vezes por semana que isso é adequado, o ideal. A gente não faz ideia do que acontece nos bastidores de cada vida, só você sabe o que faz por você.
E te garanto que mesmo amando minha rotina, ainda me comparo com quem “faz mais e melhor”. Tenho dias de frustração e angustia porque o tempo não passa do jeito que quero, porque me sinto fraca, exausta e perdida no meio de tanta gente bem sucedida. A verdade é que mesmo seguindo todos os gurus e guias de hábitos perfeitos a sensação de que tá faltando uma coisinha permanece.
Só para não terminar pessimista e revoltada, reforço que vale a pena sim cuidar de você e se esforçar para construir uma rotina que te faça bem e feliz, mas a vida é grande e a gente não precisa de martirizar por não conseguir mudar tudo imediatamente.
Como não criar um bom hábito em 5 passos - ou menos! Um desmanual?
escrito por Isabelle R Sampaio
Desde o começo do ano, tento e falho em consolidar o hábito de ler diariamente. E é exatamente por isso que digo que não sei falar sobre hábitos. Não tenho uma dica que vai mudar sua vida nem 5 passos para conseguir fazer qualquer coisa que você se propor.
Porém, tenho muito a compartilhar sobre como tenho persistido em tentar falhar melhor!
Da primeira vez que falhei, foi na passagem de janeiro para fevereiro, bem quando retornei à carga horária mais intensa de trabalho. Um maior número de atendimentos na semana vem acompanhado também mais tempo dedicado a registro de caso, evolução de prontuário, preenchimento de documentos, estudos, supervisão etc… Já que cada atividade dessas tinha um horário bem estabelecido na minha agenda, teimei que a leitura também teria um horário fixo. Afinal, todo mundo que se diz especialista em criar hábitos sempre fala da importância de realizar uma mesma atividade todos os dias no mesmo horário. Mas, veja bem, essa dica preciosa não funciona para mim! Não porque sou a estrelinha dourada diferentona, mas porque minha rotina muda constantemente - afinal, depende da agenda e compromissos e acasos da vida de outras pessoas.
Engoli a seco a frustração e tentei me adaptar: a solução lógica parecia utilizar qualquer tempinho livre que surgisse na minha agenda para ler. Dessa vez, falhei porque sou o terror dos que cultuam o método pomodoro: eu tenho dificuldade em colocar atenção e energia para começar uma atividade, me demoro uns bons 20-30 minutos nessa tentativa de começar; mas, quando pego o ritmo, gosto de passar 2 horas direto imersa nessa tarefa. Então, sair de um atendimento e parar para ler por 30 minutos não apenas foi um exercício de tortura, como também me deixava mais desfocada e infeliz por não estar conseguindo priorizar a leitura.
E a coisa irônica é que: se tem algo que aprendo com a Psicanálise é a despirocar das minhas nóias! Eu poderia ter continuado frustrada e infeliz por não conseguir realizar algo que é importante para mim. Poderia entrar numa jornada obsessiva - como é de praxe! - e passar horas e horas pesquisando todo o conhecimento já produzido sobre como construir hábitos. Ter lido de teorias a vídeos de jovens no tiktok cronometrando suas leituras. Poderia ter aprendido a como otimizar meu tempo, como compartimentar a vida para fazer caber tudo o que quero fazer. O negócio é, contudo, não dá pra fazer tudo todos os dias. E é isso aí! Paz no meu rabo!
Parei de contar páginas lidas. Parei de olhar para o relógio. Parei de postar sobre a evolução da leitura. Parei de marcar os dias lidos e os dias perdidos. Parei de me sentir numa competição moral!
E, hoje, me sinto bem mais conectada com a leitura, me divirto, risco o livro, gosto de escrever sobre o que tenho lido. E, se hoje, tenho lido melhor é porque deixei de encarar como uma tarefa a ser cumprida e passei a tornar a leitura como parte da minha vida. Algo que faço porque é genuinamente divertido, me nutre e me satisfaz!
Tem algumas estratégias que uso que me ajudam a ler: mas não é sobre otimizar tempo, é sobre construir um ritual que agregue a leitura à minha vida. Quando termino de trabalhar, depois de tomar meu banho e me alimentar, desligo a luz do quarto e ligo a lamparina - e o quarto se enche de luz amarelada. Deito, enfim, para ler o que der. O tanto que eu quiser e o tanto que meu corpo puder.
Hoje, consegui ler.
Amanhã, vou ver se consigo e não aviso!
Rotina pra o que?
escrito por Luíza Vasconcelos
“Rotina é nosso ritual de auto amor” - Ananda Sueyoshi
Ter rotina nunca foi fácil pra mim. Assim como muita gente, eu sempre achei que rotina era aquela programação engessada de fazer as mesmas coisas todo dia e organização era deixar as coisas todas no mesmo lugar sempre. Então, desde cedo assumi o papel de desorganizada e caótica. Foi somente em 2020, quando conheci a Nans (clica aqui pra conhecer essa deusa) que entendi que estava totalmente errada. Aprendi, inclusive, que eu sou organizada, a única coisa que me faltava era praticar o auto amor.
Eu entendi que ter uma rotina é cuidar de mim, é saber que quando o caos tomar conta da minha vida (como constantemente o faz, inclusive no dia que escrevi esse texto), eu vou saber como voltar. Dentro da minha rotina, eu posso decidir o que pode ser decidido, já que o imprevisível não vai deixar de acontecer. Saber voltar, saber o mínimo necessário pra cuidar de mim mesma é essencial pra me manter viva, existindo aqui nesse momento. E como eu faço isso? Exercitando a presença! Nada fácil, mas possível.
Durante muito tempo eu vivi a vida no piloto automático. Fazia o que esperavam de mim e me comportava como era esperado. Não tenho uma boa memória, mas garanto que hoje em dia eu lembro muito mais dos acontecimentos do que nos velhos tempos. Como eu vou lembrar de tantas vivências e situações, se eu nunca tava lá experimentando aquele clichê do vivendo o momento?
“Às vezes eu preciso lavar a louça antes de fazer o jantar”. Eu não posso pular essa parte do processo onde estou para a parte do processo onde as minhas questões atuais não existem mais, onde os problemas estão resolvidos. Isso não existe! Eu não estive presente em mim mesma por grande parte da minha vida, acelerada pensando no que vou fazer depois do jantar, mas com uma pia transbordando de louça suja e a sem comida na geladeira. Eu preciso estar presente na minha vida, no momento. Só assim posso cuidar de mim, ter pra onde voltar depois do furacão da ansiedade me atropelar a 200 km/h.
Hoje, enquanto escrevo esse texto, estou há meses num pico de ansiedade tremendo. cumprir minha rotina nem sempre tem sido possível. Readaptando remédios, indo a médicos, terapia e tentando. Mas depois de tantos meses, posso afirmar que nunca estive tão cansada. Dói apanhar constantemente do meu próprio corpo, mas sabe o que me conforta? Saber que isso é uma situação de vida e situações de vida são passageiras. Eu já superei muita coisa difícil, não vai ser essa que vai me derrubar. Minha eu do passado criou uma rotina e, como ela é esperta, registrou tudo no notion, em cadernos e em agendas. Agora, eu no meio do caos, cansada e sem energia vital pra pensar em como vou sair do buraco, posso acessar esses escritos e traçar caminho pro recomeço. Eu criei rituais (sim, porque como uma boa pisciana, sou amante de coisas tileles), nenhum deles complexos. Só escrevi o que já fazia, pensei como seria a forma ideal e a essencial (mínimo possível) e escrevi. É que a gente já faz muita coisa igual todo dia. por exemplo, a rotina de manhã ou a rotina de dormir ou a rotina de chegar do trabalho, ir pra academia. Em todos esses momentos, tem coisas que eu faço na maioria das vezes e em ordem similar. O que eu fiz foi tirar esse conteúdo da minha cabeça, que obviamente já tá muito assoberbada pra ainda ter que lembrar de qualquer coisa em meio ao caos.
Aprender a ritualizar a hora de dormir e o momento em que eu acordo, nossa… isso me traz tanta paz. Fico muito orgulhosa da Luíza do passado por ter cuidado de mim, e quando faço essa coisas por minha eu do futuro (mesmo que esse futuro seja o dia seguinte) fica mais fácil gostar de mim. Ter compaixão. Pra mim rotina significa isso, me dar motivos para gostar mais de mim. É bem difícil na verdade, e se você entender de astrologia fica pior, porque eu tenho gêmeos na casa 6 e mercúrio retrógrado em peixes. Traduzindo pra não astrologuês significa que, se eu posso absolutamente qualquer um pode. Não tô aqui só pregando a palavra da rotina acima de tudo, você que sabe da sua vida. Pra mim é remédio, medicina mesmo, não posso viver sem.
Pra pensar menos (ou mais, dependendo da dica)
Dica da Isa
Queria indicar uma leitura babado: Psicopolítica do querido Byung-Chul Han. Nesse livro, entre muitos tópicos nada leves, ele vai pegar na sua mão e te explicar como se você tivesse 6 anos porquê entrar nessa nóia de otimizar a sua vida, na verdade, é só outra forma de dominação nessa delícia neoliberal que vivemos. Então, gente, despiroca das tuas nóias!
Dica da Lu
Como uma pessoa que ama organização e planejamento, quando conheci o Notion me apaixonei, desde então virei pregadora da palavra. Então, seguem algumas dicas pra tu conhecer ele, ser feliz e começar a tirar as coisas da sua cabecinha surtada:
Ele não tem versão em português, mas se você usar ele no navegador e clicar com o botão direito do mouse, aparece a opção de TRADUZIR PARA PORTUGUÊS. aqui ela explica direitinho
Como usar o Notion em português | Celular e computador
Conheci o notion pelo canal Tira do Papel do Tiago. Recomendo todo o conteúdo dele sobre criatividade, inclusive. Ele explica como usa na vida nesse vídeo:
🧠 Como Criei Meu Segundo Cérebro? [Organização de Ideias no Notion, Google Drive e Pinterest]
Por último, mas não menos importante, o thomas. Ele tem templates maravilhosos e explica muito didaticamente. Nessa playlist ele ensina o fundamental do notion, é um curso inteiro grátis (e ele aina é bom de olhar, só vantagens). São vídeos em inglês, mas você consegue por legenda traduzida automaticamente em português, só clicar na configuração no próprio vídeo.
Notion Fundamentals - Learn How to Use Notion
Dica da Ad
Ter ferramentas de organização da rotina fora da minha cabeça é essencial pra conseguir manter tudo funcionando como gosto. Cada um tem seu jeitinho de fazer funcionar, mas eu sou adepta mesmo do papel e caneta (coloridas, de preferência).
Atualmente uso o planner sem data da Flor De Mim que foi uma das melhores descobertas do ano passado. Além de produtos lindos, o conteúdo dela é incrível e ajuda demais a se entender com sua forma de planejar.