Formando uma dupla dinâmica com a ansiedade!
escrito por Luíza Vasconcelos
Faz alguns meses que eu vivo uma espécie de batalha com minha ansiedade. Ela puxa de um lado e eu do outro. Sinto muito em dizer que, na pontuação total, se tiver um vencedor é ela que tá ganhando. Por conta disso eu tenho estado muito monotemática (ou talvez seja só impressão minha por conta do desejo de agradar - mas não acho que seja), o que acabou me fazendo ficar bem mais calada do que o habitual e mais recolhida em minha própria concha. À medida que as pessoas que convivem comigo foram sendo informadas da situação, mais calada eu fiquei. já que não precisava mais explicar o por que não dei noticias, não respondi o whatsapp ou não procuro a pessoa há semanas. eu já devo inclusive ter falado sobre isso aqui na news.
Faço parte de uma casa de umbanda e outro dia estávamos conversando sobre Orí e a necessidade de cuidarmos de nós mesmos como um todo. Não só focar na parte espiritual, mas também cuidarmos do nosso emocional e nosso corpo físico. Admito que buscar esse equilíbrio não é algo fácil de ser conquistado. Eu venho penando há algum tempo e, nos últimos meses, eu cansei! De verdade. Hoje, escrevendo pra esse texto, lembrei de um que escrevi tempos atrás quando um dos sintomas físicos, uma alergia na pele, insistia em não ir embora. Nesse texto eu perguntava: por quê não consigo trabalhar em conjunto com minha mente como uma grande dupla dinâmica que conquista o inimaginável? Até quando vou ter esses momentos de exaustão por conta da briga interna, a batalha entre meu corpo e minha mente?
Eu sei que os momentos de cansaço vão existir. Um transtorno depressivo combinado com ansiedade, como o que eu tenho, não é algo que vai embora, é crônico. Esses momentos ainda irão existir, mas eu não vou me desgastar e ficar cansada pra sempre. São momentos, situações de vida, é temporário.
Tá, admito que tô precisando ganhar algumas batalhas, logo. Não só as vitórias internas, mas as da vida prática mesmo. não tem sido um caminho fácil esse dos últimos anos. O desgaste dele chegou há algum tempo e de vez em quando ele dá uma cutucada pra que eu lembre que ele tá aqui, que eu preciso descansar, que ele precisa ir. Mas eu tenho essa batalha pra ganhar, e falta tão pouco. Eu sei. O sabotador, Ana, como eu nomeei, fica na minha frente pra que eu não enxergue a distância correta. Mas eu sei, eu sei que tá perto.
Por hoje, decidi que não vou papocar. Vou deixar pra remediar amanhã.
escrito por Isabelle R Sampaio
Quando me falaram o tema dessa news, eu fiquei sem entender. Passaram dias, me explicaram, e eu ainda não sabia o que dizer. Desde a minha viagem para a Europa, sinto que retornei desapegada do que me causava estresse e ansiedade na rotina. Ou talvez seja o efeito da sessão de terapia semanal. Tenho estado mais leve e flexível, menos neurótica eu diria!
Mas, não sou um serzinho iluminado. Pelo contrário, só estou aprendendo a lidar diferente com o que antes provocava muito estresse na minha vida. E se eu estou estressada, meu corpo logo sente - tenho náuseas, indisposição, dores de barriga… E talvez seja essa minha dificuldade ao entender o tema da news: não sou muito a pessoa de sentir ansiedade no dia a dia, porém eu passei muitos anos da vida engolindo a seco - e sem farinha! - estresses, desaforos e incômodos.
Às vezes me sinto uma panela de pressão prestes a papocar de tanto estresse acumulado. Não sei se é diferente de sentir ansiedade, mas é como sinto. Não é algo que me paralisa, mas é algo que faz todo o meu corpo parecer estar tremendo como num terremoto. É algo que me faz sentir pressa - o pensamento correndo para dar conta de tudo que precisa ser feito.
No passado, o estresse veio muito da minha rotina entre universidade e estágio - e ter que passar o dia cronometrando o horário e percurso de cada ônibus que eu pegava (e eram muitos num mesmo dia!) para não chegar atrasada. Eu estava sempre correndo e sempre estressada - com o ônibus atrasado, com o trânsito, com um imprevisto no meio do caminho, com me confundir e pegar o ônibus errado e ter que voltar, com ter que comer dentro do ônibus para não me atrasar ainda mais. Eu estava sempre à beira de um desmaio, pois me alimentava terrivelmente. E eu estava sempre desejando chegar em casa e não ter que me preocupar com horários.
Atualmente, o estresse ainda está relacionada com o tempo (que engraçado, né!), mas já não envolve ônibus. Por causa dos anos na graduação em que passei correndo e comendo mal, eu tento ter uma rotina mais equilibrada. Valorizo muito o tempo das minhas refeições, o tempo para descanso entre um atendimento e outro, o tempo para me exercitar e começar o dia com calma. Valorizo minha calmaria. Mas, no dia a dia, a vida acontece e as pequenas coisinhas vão se acumulando e me estressando - é o vizinho que sempre coloca música nas alturas para tocar quando estou atendendo, o outro vizinho que insiste em mexer numa moto que claramente não funciona mais (e faz um barulho para ligar… um barulho que parece que vai derrubar o prédio consigo!), e ainda tem os vizinhos que discutem gritando no meio do dia.
Hoje, por exemplo, é domingo, o dia em que reservo para preparar as refeições da semana. Mas, por outras questões, não vai ser possível comprar as verduras para cozinhar. Já passei uma boa hora remoendo esse estresse, deixando que ele me consumisse um pouco demais, e a minha cabeça vai imediatamente para um lugar terrível, onde já imagino como toda a semana vai dar errado porque eu não vou ter tempo para preparar meu almoço nem hoje nem em dia nenhuma, e vou estar irritada, desmaiando de fome, indisposta… Daí, chorei um pouco, tomei um suco e respirei bem fundo. Sentei pra escrever e espairecer a cabeça. Continuo irritada com o imprevisto que aconteceu, mas agora estou em calma de novo. Hoje, não vai dar; mas, na segunda, vou no mercantil e, na terça pela manhã, vou conseguir preparar minha comidinha para a semana. Não vai ser no tempo ideal nem da forma que quero, mas foi o jeito que encontrei de cumprir as responsabilidades do trabalho e dar conta de remanejar esse imprevisto, mantendo minha calma, sem deixar o desespero me consumir ainda mais.
Vai dar certo, só vou ter que readaptar algumas coisas. Vou me estressar por não ser como eu queria? Sinceramente, decidi que não vou papocar hoje por isso. Amanhã, quem sabe, eu acorde como uma panela de pressão me tremendo toda de novo. Mas, hoje, vou escrever esse texto e ir organizar um projeto que quero tirar do papel. E, por hoje, é o que vai estar tendo!
Tempo tempo tempo tempo...
escrito por Adline Alves
o tempo me diz todo dia pra ter calma. se eu escuto ou não, o problema é meu. ele não se importa em passar do jeito que ele quer. ele não quer saber que minha paciência oscila, que minha força se esgota, que minha determinação precisa de recompensa para continuar existindo.
o tempo me diz que as coisas vão acontecer quando forem pra acontecer. ele dita o começo, as pausas, a duração, o final, os recomeços. ele me diz não como uma tia chata que não tá nem aí pra minhas birras infantis, depois me agrada com presentes inesperados para que de alguma forma continue gostando dela.
não existe o estático no vocabulário do tempo. ele transforma tudo, esfarela as estruturas das rochas mais duras, constrói os arranjos moleculares mais complexos. tudo isso sem pedir licença, sem ao menos se importar com o que eu planejei.
impassível. domina o passado, o presente e o futuro. não precisa de nenhum de nós para funcionar, mas só faz sentido enquanto existirmos. nunca vamos conseguir entendê-lo de verdade, ainda assim, é nele que ancoramos tudo que temos.
Não sei direito como começou, mas minha relação com a ansiedade existe faz mais anos que consigo lembrar. O diagnóstico “oficial” veio em 2015 depois de meses tentando entender um enjoo que não passava e não cansava de se transformar em outros sintomas físicos. Acho que hoje em dia é mais fácil entender que a ansiedade se mostra não só como angústia ou medo excessivo, mas naquela época tinham certeza que eu só estava desnutrida e que meia dúzia de vitaminas iam me curar.
Nem preciso dizer que isso aí só serviu para prolongar o sofrimento, né? A jornada foi muitas vezes confusa e sinuosa, mas agora sinto que toda vez que ela sai do normal consigo identificar rapidamente e acessar ferramentas úteis para tranquilizar os sintomas.
Poderia elencar todas as ferramentas que aprendi na terapia, os remédios que já tomei e os que ainda tomo, os rituais que tento manter diariamente, os livros que me ensinaram os motivos biológicos de me sentir assim, os vídeos com dicas de como agir numa crise e muito outros conteúdos que de fato colaboram pra que a ansiedade não domine todos os meus dias; mas nada disso funcionaria se eu não cuidasse da minha relação com o tempo.
Todos os dias parecem longos e sufocantes enquanto estamos brigando contra o tempo. A repetição constante de que é tarde demais, que estou velha demais, que acumulo erros demais; só me levam para mais longe de me sentir suficiente. De que adianta tanta pressa se no presente não existir paz?
Pra pensar menos (ou mais, dependendo da dica)
Dica da Ad
Desde que me entendo por gente sou fascinada por Alice no País das Maravilhas, aquele classicão de 1951. Já perdi as contas de quantas vezes assisti, sei até as falas decoradas. Mas toda vez que revejo ainda consigo aprender (ou relembrar) coisas sobre o tempo e como me relaciono com o espaço que ocupo. É o filme perfeito para qualquer momento da vida porque você pode apenas se distrair e se divertir com as cores e músicas, ou repensar sua vida inteira enquanto acompanha uma menina perambulando num mundo de loucos.
Dica da Isa
Nada melhor que um filme de horror para desgraçar a sua cabeça a ponto de não sentir mais ansiedade no dia a dia! E, eu estou obcecada por esse podcast que apenas as fãs de horror vão entender: Esqueletos no Armário é criado por três amigos que discutem sobre cinema queer & horror de uma forma muito divertida! Vou indicar esse episódio que me acabei de rir com as melhores indicações de filminhos cults para assistir nos próximos meses. Eu, particularmente, estou doidinha para ver The Outwaters e não dormir por toda uma semana, e você?
Dica da Lu
Se tem uma pessoa que tem me ajudado a aliviar a ansiedade é a Pri Leite! Então minha dica é vá conhecer essa deusa. Com experiência na prática de yoga ou não, lá tem aula pra você (até pra aliviar enxaqueca e funciona, comprovado por mim mesma essa semana inclusive). Fora que é de graça né?!! Pelamordi!