#3 Amizades ao longo da vida
Só se fala em amor romântico, mas a gente já entendeu que as amizades são tão importantes quanto os crushs
Piras sobre desapegar aos 35+
escrito por Luíza Vasconcelos
Devo começar dizendo que terapia salva vidas e que qualquer sinal de bom senso e maturidade (será que têm ou é só cansaço, não sei, veremos) nesse texto hoje se deve a isso. Sabe é que eu sou pisciana com uma lua em câncer. Pra mim toda amizade, eventualmente, se torna família. Pelo menos eu trato como se fosse. Tratava, já disse que terapia salva vidas? Então… não sei se vocês sabem, mas nem todo mundo que se diz seu amigo merece ser tratado como família. Se eu sou a primeira a te dizer essa verdade, recomendo terapia. Durante anos eu deixei a carência da minha lua em câncer comandar minha vida afetiva e amizades estão inclusas nisso. A vida adulta não me ensinou com amor a ser criteriosa sobre quem eu deixo entrar na minha vida. Pelo menos não com um amor fácil. Nos meus 20 anos eu não tinha absolutamente nenhum critério. Se você sorrisse pra mim, era meu amigo de infância automaticamente. Podre!
Mas agora vem a palavra de sabedoria dos 35+. A gente precisa esperar menos das pessoas, por menos peso nas relações e em nós mesmes sabe?! Onde tá escrito que um amigue precisa querer estar na tua vida pra sempre (ou que você precisa querer isso)? Por que esperamos que as pessoas nos amem incondicionalmente e satisfaçam todas as nossas expectativas? Isso só existe no útero meu bem! E você já saiu de lá há muito tempo!
Eu li um livro, Conversas Corajosas, da Elisama Santos. E ela ocupou um triplex eterno na minha cabeça quando falou sobre um tipo de diálogo interno que atravessa nossas conversas. Vou resumir (como se eu soubesse fazer isso), mas da forma como eu entendo, tá?! Assim, vamos supor que recentemente tu começou um relacionamento e sua amiga achou ela feia. Aí vocês se encontram e ela pergunta como você tá. O diálogo interno que, hipoteticamente, você tem consigo mesma parte da ideia de que ela acha ela feia e te julga por você tá com essa pessoa. Aí, quando você responde, não responde a um simples ‘como você tá?’, você responde ao julgamento que acredita que ela fez da pessoa com quem você tá. Entende? Enfim, lê o livro que vale a pena. Eu sempre me pego lembrando desse trecho do livro e me questionando sobre os diálogos internos que atravessam minhas conversas. Quantas vezes esses atravessamentos não ficaram entre eu e amigues querides? Quantas vezes eu não deixei de escutar uma pessoa porque tava escutando as respostas que eu projetei dentro da minha cabeça e vice versa?
Nós não sabemos nos comunicar!!! Esse é um mal da humanidade. Além de não sabermos nos comunicar, a gente também não vive na mesma realidade do outro. Não tô falando de estrutura social, mas de todo mundo mesmo. Eu vejo o mundo de uma forma, meu irmão criado na mesma casa, vê de outra. Meus vizinhos, vou nem comentar (tudo bolsominion). A PNL ensina que nós vemos o mundo de maneira muito particular. Nossa mente interpreta o mundo através de fatores neurológicos (nossos cinco sentidos), sociais (cultura e linguagem com a qual convivemos) e de fatores individuais que variam a partir da forma como nossa mente modela e classifica os estímulos que recebemos (dentre eles nossas crenças e valores). E você ai pensando que tua melhor amiga te conhece com a palma da mão. A gente vive de acordo com a realidade que criamos na nossa própria cabeça.
Aí tu imagina a audácia que é querer que alguém responda a suas expectativas de amizade? Sendo que, provavelmente, a recíproca também é verdadeira. E, segundo Elisama, possivelmente você não é tão claro nas tuas conversas como você imagina. Tu tá me seguindo nessa pira? Gente…bora soltar esse controle. Bora deixar as pessoas serem as pessoas sabe?! Parece papo de pisciana (e é..), mas…sério, imagina comigo…que louco seria se a gente aproveitasse a pessoa na nossa vida, enquanto ela tá na nossa vida. E se a vida levar elu pra um lado e tu pra outro…fica tudo bem. Ah, a gente sofre um pouco, chora se for o caso, mas segue em frente. Sabe porque? Por que outro ser humanos vai aparecer e tu vai se distrair. Aí talvez você chegue aos 36, como eu, com umas 5 amigas com quem você ajudaria a esconder um corpo baseado em conhecimentos acumulados por anos assistindo Criminal Minds.
Brincadeiras a parte (nem tanto), com quase 40 anos (eu tô amando dizer isso), eu tenho muita preguiça de segurar as pessoas sabe? Fica quem fica e vai quem vai. Acho que eu tô aprendendo a aproveitar o caminho porque, sinceramente, dá trabalho demais ser apegado. Minha lua é em câncer, mas a vênus em áries e o ascendente em caprica estão sem tempo irmão.
Sem minhas amigas eu não seria metade de quem sou
escrito por Adline Alves
Por esses dias viralizou este tweet - frase retirada de um texto de Tracy Figg - para falar sobre as inúmeras violências e absurdos que estes causam todos os dias sociedade a fora. Essas palavras ficaram ressoando em mim por dias e fui alimentando mágoas e rancores de cada homem que cruzou meu caminho. Depois de muito cultivar o ódio, comecei a pensar o que essa frase significaria para mim se mudasse o sujeito para “mulheres”.
E da mesma forma que fiz pela primeira vez, fui revisitando memórias onde mulheres agiram de forma semelhante mesmo vindo de lugares e vivências diferentes. E para a minha alegria (e aumento da pouca fé na humanidade que tenho) encontrei-as em lugar de apoio dezenas de vezes.
Eu tenho completa noção de que não existem apenas mulheres incríveis, solícitas, amáveis e empáticas no mundo. Entendo que a rivalidade feminina ainda é mais comum do que gostaríamos. Mas vou fazer tal essa boneca e me reservar aos direito de focar apenas na minha vida pessoal.
Com a Isa, minha amiga mais antiga, aprendi a respeitar o tempo e os processos das pessoas - principalmente o meu. Com Luiza, minha oposta complementar, aprendi que não importa quantas vezes for necessário, buscar minha cura e autoconhecimento sempre vai valer a pena. Com a querida aprendi que ser autêntica é a melhor coisa que posso fazer por mim, mesmo quando não faz sentido para mais ninguém. Com a Paula aprendi a ser firme, altiva e manter minha cabeça erguida com confiança em quem sou. Com Tainã entendi que carisma é algo que não se aprende, tem gente que simplesmente nasce com ele. Já a Bia me ensinou a ser combativa e falar o que eu penso, e a não aceitar ser domesticada só porque sou mulher. Com a Katy entendi que não vou agradar todo mundo, e que tudo bem ser gentil e amável apenas porque gosto de ser assim. Com a Wise aceitei que podem me achar chata o quanto quiserem, contanto que me respeitem. Minha irmãzinha Laynna me mostrou que resiliência não tem nada de glamuroso, e que mesmo as pessoas mais fortes precisam de apoio e colo.
Essa lista poderia continuar por horas, e ainda assim não iria conseguir honrar a contribuição de cada uma das minhas amigas nos meus dias. Ser mulher tem sido um fardo bem difícil de carregar. As dores muitas vezes se sobrepõem às delícias e até me fazem esquecer do quanto gosto de ser quem sou. Já agradeço pela existência de cada uma toda vez que abro uma conversa no zap para compartilhar uma paranoia, ou quando me vejo fazendo exatamente o que uma delas me aconselhou; mas quis dizer publicamente que ter amigas é a parte mais importante da minha caminhada.
Quero deixar claro que nada disso foi construído por acaso. Hoje não quero focar nos desencontros, apesar de eles estarem presentes e fazerem parte de toda interação entre seres humanos comuns. Se relacionar sempre é uma via de mão dupla, requer atenção e esforço também. Não seja cretina, viu? Repense que tipo de interações estão sendo cultivadas ao seu redor e entenda que sua vulnerabilidade só pode ser acolhida e celebrada quando você faz isso pelo outro.
Tudo o que aprendi sobre o amor, aprendi com as minhas amizades
escrito por Isabelle Rocha Sampaio
Na adolescência, eu fui uma pessoa cheia de raiva. Não tinha como ser diferente naquela época, crescendo como uma mulher negra antes de termos tanto acesso a informações e discussões sobre raça e gênero.
De raiva, rejeição e silêncio, eu entendia bem; não de carinho, atenção ou afeto. E como toda jovem magoada, eu tentei construir um muro entre mim e outras pessoas. Tentei ser autossuficiente, na verdade, tentei provar que não precisa do afeto de ninguém, pois eu SOZINHA era o bastante!
Como todas as jovens da época, eu acreditava que poderia ser uma fortaleza impenetrável, e que essa seria a solução para todos os meus problemas! Para finalmente parar de sofrer, para me sentir satisfeita e segura comigo mesma! Para não depender de ninguém para ser feliz!
Mas, construir muros entre eu e outras pessoas não é um movimento de fortalecimento; pelo contrário, é um isolamento e aprofundamento da própria dor. Demorou para eu entender isso, que as outras pessoas não são as culpadas pela minha dor, que as outras pessoas não são o meu inferno; mas parte do meu caminho de cura. E diferente do que sempre esperei, não foi num relacionamento romântico com A Pessoa Certa Para Mim que compartilhei esse processo; mas com as minhas amigas.
Sempre que falamos de amor, falamos do romântico. É lógico que sempre esperei que, um dia, encontrasse a pessoa certa que me amaria completamente por quem eu sou, com todas as minhas nóias, inseguranças, traumas; e que a pessoa certa resistiria a todas as provações que eu colocasse no meio do caminho. Ninguém me contou que existiam outros amores na vida, além dessa pessoa perfeita - e inexistente - pra mim.
Isso foi algo que vim descobrindo, maravilhada e terrivelmente assustada! Porque é isso, se não há a pessoa certa que vai viver para me amar, isso implica que eu também vou ter que me dedicar a construir o relacionamento. Isso implica que eu preciso cuidar das minhas feridas, que eu preciso estar presente na relação, que eu preciso me comunicar, pedir desculpas, tentar de novo. E foi com as amizades que aprendi isso: agir com amor e intenção para nutrir meus relacionamentos. Agir assim não porque as minhas amigas exigem que eu mude para merecer o amor delas; mas agir assim porque eu quero me comprometer e cuidar dessa relação!
A parte mais surpreendente que venho aprendendo é que o processo de cura e de transformação não é tão solitário quanto pensei - é um processo compartilhado com tantas pessoas. E não poderia ser diferente, quando eu sozinha só conseguia ver a minha própria dor e erguer muralhas. Mas, com outras pessoas, eu aprendo tanto, aprendo como vivo minhas relações, aprendo a escutar e respeitar o tempo do outro, aprendo a construir junto, lidando com o meu desejo por controle para respeitar a autonomia do outro. Aprendo a lidar com as minhas nóias e inseguranças, não mais sabotando relacionamentos, mas tendo a coragem para chegar na minha amiga e perguntar “isso é nóia minha? ou você tá realmente chateada comigo? e se tá, você quer conversar?”.
E acredite - as pessoas não vão chegar prontas para nos receber. Pelo contrário, nós encontramos as pessoas com seus próprios traumas, inseguranças, medos, fugas e comportamentos autodestrutivos. Ninguém chega como um ser humano perfeito que jamais vai errar nem nos machucar. Minhas amigas chegaram com todas as suas imperfeições, e eu também. Tem características em cada uma delas que me tiram totalmente do sério. Mas eu não posso exigir que elas mudem por mim. Pelo contrário, eu topo construir esse relacionamento com elas por quem elas são, com todas essas imperfeições. Porque eu sei que elas estão aprendendo e estão se curando também. E porque eu não poderia as amar se fossem diferentes - eu só posso as amar por quem elas são. E exigir que elas sejam o que eu quero que elas sejam… Eu não estaria as amando, eu estaria amando as minhas próprias fantasias.
É tudo isso o que tenho aprendido com as minhas amizades! E tem sido feliz!
E como sempre, te deixo uma questão (muito psicóloga da minha parte, eu sei!): Como você tem construído suas relações de amizade? O que você tem aprendido sobre você mesma nessas relações? Leva pra terapia!
Pra pensar menos (ou mais, dependendo da dica)
Dica da Isa
Hoje, vou indicar algo leve: apenas o melhor episódio de podcast de todos os tempos, a história da viagem (cheia de perrengues) de Foquinha e André com os seus melhores amigos. O episódio #6 Não viajamos mais com amigos do Podcast Donos da Razão.
Dica da Ad
Quem me conhece sabe (aquelas né) que eu AMO filme de comédia adolescente e vim indicar Fora de Série (2019), o que chamam de a versão feminina de Superbad, . Conta a história de duas amigas adolescentes que fizeram tudo “certo” o ensino médio inteiro e no último dia resolvem aproveitar tudo que não viveram até ali. Gosto demais porque no fim das contas fala sobre esse medo de viver uma nova fase e de se afastar das pessoas que são nossas fortalezas. Assistam de coração aberto e divirtam-se.
Dica da Lu
Esse livro deveria ser item obrigatório pra viver em sociedade. Pelos menos entre minhas amigas é.
Mainha comprou e leu, aí presenteou toda a família e amigas. Seguindo o exemplo, criei um rodízio com o meu e estou obrigando todas minhas amigas a lerem. Leiam e fiquem conscientes dos diálogos internos de vocês. Elisama é um amor de pessoa, queria ser amiga dela, espero que vocês amem ela como eu. Ah, e faz terapia, tu vai precisar!
Muito bom! Foi meio como ler um abraço em forma de texto