#8 Enaltecendo o carnaval
Impossível falar sobre qualquer outra coisa porque finalmente ele voltou e já deixou saudade!
Mesmo chegando no domingo, a gente não poderia deixar de falar do melhor feriado desse país. Provavelmente você - assim como a gente - ainda está se recuperando fisicamente, mentalmente e financeiramente desse evento e não quer saber de nada sério. Então aqui vai um texto gostosinho e leve pra rir e aquecer o coração lembrando do tanto que aproveitou nos últimos dias. Boa semana e feliz ano novo!
Vivendo momentos históricos felizes
escrito por Adline Alves
Se você já leu qualquer outro texto dessa news, ou me conhece minimamente, sabe que eu tenho a tendência de ser controladora. Os últimos anos me fizeram passar por angústias e medos que deixavam a tarefa de viver o presente ainda mais difícil. Tudo parecia ser uma expectativa sem fim de quando a vida ia voltar ao normal - ou pelo menos quando íamos estabilizar no novo normal. E em todo momento o tempo fazia questão de continuar passando e deixando claro que não ia esperar a minha estabilidade chegar.
Eis que chega 2023 e com ele a promessa de retorno de uma das melhores coisas que o Brasil produz: o carnaval. Nós, que vivemos os mais detestáveis e assustadores momentos históricos de 2020 pra cá, chegamos vivos e saudáveis (com muitas ressalvas) para aproveitar alguns dias onde a única regra é ser livre e se divertir.
Minhas expectativas eram as menores possíveis para esses dias, tinha certeza que o maior ato de alegria seria dormir até mais tarde e não ir pro trabalho. Meu maior parceiro dessa época está morando do outro lado do mundo, estava emocionalmente cansada e pra completar o desânimo a programação de Fortaleza foi feita por gente que nunca frequentou uma carnaval na vida. Que bom que eu estava errada!
Definitivamente não sou uma pessoa festeira. Gosto do meu ritual do sono, deitar cedo para ler, quase nunca bebo nem viro madrugadas na balada, sou apaixonada pela minha rotina e por ver meus dias organizados no planner. Mas no carnaval nada disso importa e eu tinha esquecido como é viver assim! Eu só quero e preciso estar na rua, me sentindo confortável e bonita, rodeada de gente que saiu de casa querendo se divertir, que canta e pula junto até com quem não conhece.
Sem planejamento nenhum me vi cheia de glitter, abraçando pessoas queridas e conhecendo gente nova, dia após dia caminhando tranquila por aí em horários que nunca teria coragem de estar na rua, pegando ônibus lotado sabendo que todes iam pro mesmo lugar, rindo alto, dançando com tudo que tenho, cantando o que tocar, provando que a vida é mesmo uma caixinha de surpresas e impermanências.
Ser feliz e celebrar a vida, a liberdade, a cidade, a cultura do nosso país também é fazer história. Que nesse ano a esperança e as transformações sejam tão arrebatadoras e potentes como um dia quente de carnaval.
Apenas no Brasil poderia existir uma festa tão malemolente como o nosso Carnaval!
escrito por Isabelle R Sampaio
Tem anos que brincamos falando que “isso representa o Brasil mais que Carnaval e futebol”, mas, para mim, nossas tradições de carnaval representam muito bem a complexidade e diversidade que forma o Brasil. Só aqui mesmo para termos uma festa onde tudo para por dias - dias dedicados quase exclusivamente para a gente ir se encontrar na rua, dançar, se pintar e se fantasiar para celebrar com amigos e pessoas que só poderíamos conhecer no meio do carnaval mesmo.
Não sei você que me lê, mas, depois de anos de pandemia, eu estava muito animada para viver intensamente esse carnaval. Infelizmente, Fortaleza prometeu pouco e entregou menos ainda. E mesmo assim, o espírito de celebração do brasileiro foi mais forte, porque em cada beco tinham pessoas dispostas a construir suas próprias formas de comemorar: de bloquinhos populares puxados por velhinhos que adoram tocar samba até bloquinhos feitos pela juventude alternativa desta cidade, vivi um pouco de tudo e fiquei encantada com a vontade do povo de estar junto. Porque até então, parecia ser um desejo só meu, nutrido pelos anos em que a vida pareceu estar suspensa e o outro era visto como um perigo à nossa vida. Mas, pelo visto, estava todo mundo com desejo de VIVER.
E o carnaval é isso: uma festa para celebrar a vida.
Queria escrever muito das coisas que vivi nestes e em outros anos, pois há aventuras que só poderiam ser vividas durante o carnaval mesmo. Talvez, um dia, eu realmente escreva um livro de crônicas do carnaval.
Minha carne é de carnaval
escrito por Luíza Vasconcelos
ver pessoas cheias de glitter, plumas e brilho, muito brilho. mulheres usando meia arrastão, body, biquíni ou tapa sexo nas ruas sem se conterem por medo de violência. pessoas fantasiadas e grupos de amigos ou casais com fantasias combinando. ouvir a multidão de pessoas cantando e dançando juntes na Gentilândia. os encontros aleatórios que acontecem desde amizades de infância por uma noite no bloquinho por que um ofereceu glitter pro outro ou amigos de infância que se reencontram depois de anos sem se ver.
ficar dois anos sem carnaval, presa em casa durante uma pandemia foi realmente estranho. o carnaval tende a ser algumas semanas antes do meu aniversário e eu sempre vi ele como um marco mesmo. esse ano, a medida que a data se aproximava parecia mentira. acho que só acreditei quando já tava maquiada (como não me maquio o ano inteiro), coberta de glitter, com minha plaquinha de geleia da Shakira pulando ao som do bloco mambembe com uma amiga parceira de carnaval. foi estranho!
eu nem sempre soube escolher as pessoas certas pra me acompanhar nos rolês. na verdade tinha um padrão bem destrutivo quando se fala de relações (de amizade ou amorosas), mas esse ano me peguei na terça a tarde extremamente orgulhosa das minhas amigas. eu ia ia passar meu último dia de carnaval com algumas das minhas pessoas favoritas no mundo. e eu conquistei isso! eu escolhi usar um body e uma saia de tule transparente combatendo toda autocensura e medo que tenho de andar quase nua na rua. eu tive coragem de fazer isso porque sei que estaria acompanhada daquelas mulheres e isso pra mim é tão sagrado. o carnaval pra mim significa liberdade. uma liberdade que não nos é permitida nem sonhar ao longo do ano. e esse carnaval em especial, além de mais livre do que nunca, eu tava com minhas pessoas favoritas no mundo.
talvez pareça pouco, não sei. mas me vestir do jeito que eu quiser, sem me preocupar se vão me sexualizar ou não, me assediar ou não, é um grito de liberdade muito grande pra alguém que sofre assédio todos os dias quando sai de casa desde os 12 anos de idade. eu não teria coragem de fazer isso se não tivesse acompanhada e sendo incentivada pela Wise e pela Ad. e isso é gigante. eu vi uma desconhecida me abordar pra me proteger de um assédio. vi minhas amigas se admirando ao se arrumarem e se reapaixonando por si mesmas. chorei vendo minha amiga lembrar da Samilly que amava o carnaval, mas foi levada cedo demais pela covid. curei uma dor antiga ao encontrar uma amiga de adolescência e descobri que ela sentiu o mesmo. lembrei da saudade que sinto da Bahia. chorei de felicidade quando minha irmã me mandou um vídeo de cima do trio da timbalada por que ela lembrou de mim. vi exu e meus orixás serem exaltados na avenida e cantados por centenas de pessoas. e, o mais importante, lembrei o gostinho da liberdade de ser quem eu sou.
carnaval pra mim é isso. o gostinho da liberdade. quem dera, a gente pudesse viver a alegria e a liberdade do carnaval todos os dias do ano. quem dera os orixás pudessem ser exaltados em voz alta sem racismo religioso o ano todo. quem dera mulheres poderem andar livres nas ruas com a roupa que quisessem o ano todo. enquanto não dá, contagem regressiva pro de 2024 já começou por aqui!!
Pra pensar menos (ou mais, dependendo da dica)
Dica da Lu
Bem, como não tem episódio do Opostas Complementares (meu podcast) com causos de carnaval, recomendo o do É noia minha? que tá simplesmente perfeito.
Dica da Isa
Enquanto a gente estava vivendo na farra aqui no Brasil, a Maqui estava partindo de navio rumo à Antártica. Eu nem sabia que era possível, você viajar de barco até lá. Mas, agora, eu tenho um novo sonho: dormir ao relento na Antártica, pular na água e ver pinguins. Como eu não podia passar essa vontade sozinha, minha recomendação só poderia ser essa: vai lá no perfil da Maqui no insta (aperta aqui, mor) conferir as histórias dela sobre a viagem. Ela registrou e salvou tudo. Boatos que também terá um vlog, mas enquanto ele não chega, a gente se contenta com o que dá.
Dica da Ad
Antes de qualquer coisa gostaria de dizer que não faço ideia do que diz a letra dessa música, e nem fui pesquisar antes de indicar. Coloquei aqui porque ela me passa uma vibe de ser feliz num dia de sol, tem sons que me lembram uma nave alienígena e o francês é falado de um jeito muito descolado que me dá vontade de dançar. Aproveitem, foi um achado precioso. E me indiquem músicas assim, eu adoro!
amei a dica da música sem saber o significado da merda!